Mercado de trabalho: entre questões estruturais e soluções paliativas.
Tatiana Pinheiro, economista chefe e sócia da Panamby Capital para AE Broadcast
Muito se debateu sobre a evolução do mercado de trabalho no último ano. As dificuldades de apuração que a pandemia impôs às pesquisas de emprego contribuíram para complexidade na avaliação do cenário. Mas a verdade é que a elevada ociosidade do mercado de trabalho é assunto recorrente há algumas décadas e a Covid apenas exacerbou os problemas.
É importante separar as questões de curto prazo das estruturais. As de curto prazo com certeza pressionam as avaliações conjunturais, mas são as estruturais que deveriam orientar a condução de política econômica.
Fatores que influenciam no curto prazo: a elevada taxa natural de desemprego e a relação não linear entre emprego e produto. O descontrole dos gastos públicos, que culminou na crise institucional de 2016, e o crescimento abaixo do potencial cobram seu preço do mercado de trabalho. De acordo com as minhas estimativas, a taxa natural está em 10% - o que é elevado com relação aos 7% alcançados entre 2012 - e 2013 - e o emprego é mais responsivo aos movimentos de queda do PIB do que aos de expansão. Isto indica que será necessário um período prolongado de crescimento econômico acima do potencial para compensar os efeitos da contração econômica recente.
Considerando a expectativa de estagnação em 2022 e crescimento ao redor de 2% nos anos subsequentes, a expansão no mercado de trabalho será lenta, com a taxa de desemprego se aproximando de 10% - patamar de neutralidade - em 5 anos à frente. O que deixa a situação atual ainda mais alarmante. Pois a criação de vagas, resultado da recuperação econômica e da reabertura do setor de serviços, não compensou as demissões na pandemia. Até agosto, os novos postos somavam 2/3 dos empregos destruídos, segundo a PNAD Contínua. O desemprego estava em 13%, 1,6 p.p. abaixo do pico da série atingido em março passado, mas a subocupação - pessoas que trabalham menos horas do que poderiam - e a subutilização estão entre 20% e 27% da força de trabalho,demonstrando a precarização dos empregos criados...
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