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MÍDIA NEWS

"BC deve estar dividido sobre corte de 0,5 ponto", diz Le Grazie para o Valor Econômico.


Com piora no cenário internacional, Banco Central se vê um dilema para as futuras reuniões do COPOM. Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby conversou com o Valor Econômico.


O ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC) Reinaldo Le Grazie acha que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) devem estar divididos sobre cumprir a sinalização de corte de 0,5 ponto percentual na sua reunião de maio ou reduzir o ritmo para 0,25 ponto.


“Mexer na comunicação agora não ajuda na credibilidade”, afirma Le Grazie, que atualmente é sócio da Panamby Capital. “A vantagem de diminuir o passo é estender o período de observação e, lá na frente, poder chegar à conclusão de que consegue ir mais longe [com o juro].”


Em 2018, Le Grazie viveu um dilema semelhante no Copom, na gestão Ilan Goldfajn, quando não foi entregue uma queda sinalizada de 0,25 ponto. “Não foi uma experiência agradável”, afirma. “O mercado piorou muito.”


Em entrevista ao Valor, ele lembra que, depois da piora do cenário internacional e local, a curva de juros futuros precifica uma queda de apenas 0,65 ponto percentual na Selic neste ano. Ou seja, se nada mudar, um corte de 0,5 ponto em maio significaria interromper o ciclo em junho. “É ruim”, disse. “No cenário de hoje seria razoável o Copom diminuir o passo da queda de juros.”


Para ele, o responsável maior pelas turbulências é a piora no cenário internacional, mas a decisão do governo de adotar uma meta de superávit primário zero na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025 agrava a situação. “Num dia como hoje [ontem], as coisas se acumulam”, diz. “O mundo fica pior, e o Brasil está mais complacente.”


Le Grazie diz que uma opção é ampliar a oferta de swaps cambiais para substituir títulos públicos indexados ao dólar, as NTN-As, que estão vencendo. “Quando é uma questão que o governo é um ator da piora, o BC não gosta de intervir”, pondera. “Mas hoje tem o local e o internacional. Pelo internacional, era uma boa oportunidade para fazer o restante da rolagem.”

Valor: Seria hora de o Banco Central rever a sua indicação de corte de 0,5 ponto percentual para a reunião do Copom de maio?


Reinaldo Le Grazie: Acho que o Banco Central estará um pouco dividido entre manter a comunicação, o movimento sinalizado, ou ser um pouco mais prudente e diminuir o passo. São dois lados. Mexer na comunicação agora não ajuda na credibilidade. A vantagem de diminuir o passo é estender o período de observação e, lá na frente, poder chegar à conclusão de que consegue ir mais longe. O mercado hoje esta pondo uma queda de só 0,65 ponto percentual na curva de juro. É ruim, porque, se fizer 0,5 ponto em maio, em junho não faria mais nada. Se não tivesse a questão do ‘forward guidance’ [projeção], de ter sinalizado lá atrás, em janeiro, que seriam duas quedas de 0,5 ponto, uma em março e outra em maio, acho que estaríamos caminhando para um Copom de 0,25 ponto. Claro, se a reunião fosse hoje, daqui a três semanas pode ser outro cenário. No cenário de hoje, seria razoável o Copom diminuir o passo da queda.


Valor: Então não seguir com o “forward guidance” causaria um custo para o BC?


Le Grazie: O Copom sinalizou “light”, com “disclaimer”, mas sinalizou. O comunicado dizia que, se a situação mudasse, a sinalização não valeria. Mas é ruim. O pessoal cobra. Por isso que o 'forward guidance' é perigoso. Quando vai dando certo, é bom. Vai perdendo a eficácia ao longo do tempo. E na hora que tem que sair dele, machuca, que é o cenário de agora. Então acho que o Copom vai estar dividido entre manter a sinalização para evitar ruídos ou diminuir o passo e ter mais tempo para respirar e ver o que acontece.


Valor: Quando você estava no BC, em 2018, o BC passou por uma situação parecida. Como foi?


Le Grazie: Não foi uma experiência agradável. O mercado piorou muito. Estávamos entregando quedas de 0,25 ponto em 0,25 ponto. Sinalizamos mais uma de 0,25 ponto e não entregamos. O mercado azedou muito rápido. Foi ruim não ter entregue. Fomos muito cobrados por não ter mantido a sinalização. Não tem resposta certa ou errada para isso, eu acho.


Valor: Se o Copom de fato concluir que cortar apenas 0,25 ponto em maio é o melhor, haveria condições de caminhar com a comunicação para preparar o mercado?


Le Grazie: É possível, sim. Se for nessa direção, a gente pode esperar um comunicado em um evento público de algum membro do Copom, do presidente ou de diretores. Podemos esperar alguma sinalização na linha de que as coisas mudaram, de que precisa reavaliar, que nada está escrito em pedra. Não estou fazendo juízo de valor: um caminho é manter a comunicação, a credibilidade, e a outra é concluir que a mudança nas condições é tão grande que o BC tem que mudar. Depende do colegiado. A questão é que, por alguma infelicidade, essa turbulência, principalmente externa, chegou num momento do ciclo de juros em que o ‘forward guidance’ estava estava saindo da comunicação. Se fosse um mês adiante, meio que estava resolvido. Claro que você pode argumentar que poderia ter mudado a comunicação antes. Por ironia do destino, ocorre num momento em que o último IPCA, pelo menos, foi menor. Mas o Brasil está muito parecido com os Estados Unidos, com a inflação pressionada em serviços.


Valor: O que está pesando mais no mercado, fatores externos como juros americanos e conflitos no Oriente Médio, ou o fator interno da mudança da meta de superávit primário de 2024 na LDO?


Le Grazie: O externo ficou maior, mas junta tudo. O externo piora, e o interno vai na mesma direção. Aquele IPCA um pouco melhor é apagado pelo gasto fiscal que joga o juro para cima. Não ajuda. A expectativa da LDO era que já teria essa redução de superávit. Mas, se a LDO pega o mercado mais calmo, o impacto poderia ser mais comedido. Num dia como hoje, as coisas se acumulam. O mundo fica pior e o Brasil está mais complacente.


Valor: O que o Banco Central pode fazer neste momento para acalmar os mercados. Intervenção cambial é uma hipótese?


Le Grazie: O Banco Central só ofereceu US$ 1 bilhão em swaps cambiais dos US$ 3,8 bilhões de NTN-A que estão vencendo. É uma boa oportunidade para fazer um pouco mais, porque o real está piorando mais do que outras moedas. A LDO atua para o real ser o pior. Quando é uma questão que o governo é um ator da piora, o BC não gosta de intervir. Mas hoje tem o local e o internacional. Pelo internacional, era uma boa oportunidade para fazer o restante da rolagem. De resto, não tem muito o que fazer. O governo brasileiro quer fazer mais fiscal? Um fiscal mais expansionista tem que ter uma política monetária mais contracionista. O mercado já está sinalizando isso, talvez o Copom tenha que chegar nesse ponto.



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